Além de um projeto musical, um ambiente de transformação, no qual a música serve como ferramenta para o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes. Esse é o objetivo da Orquestra Sesi de Marau, que ensina resiliência, disciplina, empatia e trabalho em equipe no ambiente escolar, por meio da musicalidade. Para participar do conjunto, os alunos devem frequentar as aulas do Iniciação às Artes, programa do Serviço Social da Indústria (Sesi-RS) que desenvolve oficinas dos mais diversos instrumentos.
Os encontros ocorrem duas vezes por semana, nas segundas e quintas-feiras, durante o contraturno escolar. A participação é gratuita para dependentes de industriários; para a comunidade, há um custo mensal de R$ 167,00. Os estudantes não precisam ter experiência nem instrumento, pois são disponibilizados pelo Sesi-RS. Além de Marau, o Iniciação às Artes também é realizado em Santa Rosa, Gravataí, Lajeado e Panambi. As oficinas são destinadas a crianças e adolescentes de seis a 18 anos, matriculados em qualquer escola, pública ou particular, não sendo necessário ser aluno de escola do Sesi.
Desde sua chegada a Marau, no Norte do Estado, há 15 anos, a iniciativa já impactou mais de 500 jovens, se consolidando como uma importante vertente na formação de cidadãos para a comunidade.
A MÚSICA COMO TRANSFORMAÇÃO
Marauense, a instrutora do Sesi-RS, Kelyn Scalcon, 25 anos, fez parte da primeira turma do Iniciação às Artes na cidade, quando tinha nove anos. "Eu cheguei e vi a proposta da música como uma forma de me divertir. Então, a diversão e a aprendizagem vieram juntas. Depois, decidi seguir na área e me profissionalizar", afirma, salientando que a sua vivência como integrante do projeto foi fundamental para a definição da sua carreira. "É muito gratificante quando vejo que estou oferecendo o acolhimento que recebi na minha infância. Muitas vezes, eu não me encaixava na escola e, aqui, eu era muito feliz", complementa.
Graduada em Música, Kelyn destacou o papel dessa formação na vida das futuras gerações. "Durante as aulas, conduzimos o processo de forma bastante didática e divertida para que eles se soltem. Com a prática musical, e não só com o instrumento, a gente vê que eles vão se expressando mais e se desenvolvendo em inúmeras áreas, como a comunicação", disse. "Criamos um ambiente acolhedor, para que eles possam errar e aprender com isso, desenvolvendo também a resiliência", menciona.
Para Jadiel Bruning, 27 anos, instrutor e maestro da orquestra, a música, por si só, já tem um poder transformador. Quando somada à metodologia educacional do Sesi, mostra um resultado significativo de trabalho em equipe, na autonomia dos estudantes e no senso crítico. "Conseguimos perceber uma mudança muito grande, principalmente em alunos com dificuldades, como TDAH e hiperatividade", conta.
Bruning também ingressou no programa como aluno, em 2012, e encontrou na educação musical o ritmo para a sua carreira. Após passar pelo projeto, cursou a faculdade de Música e, em 2016, ingressou na equipe de instrutores da unidade. "Nos processos de aprendizagem musical ou ao tocar um instrumento, a música permite que a pessoa se conheça internamente. Ela trabalha emoções, temperamentos e pensamentos. Então, acredito que a música favorece muito e coopera para a formação de uma sociedade mais saudável", relata.
Completando a equipe de instrutores do projeto, Andriel Sturza leciona nas turmas de musicalização infantil e de instrumentos de base, como teclado, violão e bateria.
"O propósito do programa Iniciação às Artes, assim como outros programas de educação do Sesi, é o desenvolvimento integral das crianças. Por intermédio da orquestra, além de trabalharmos a atenção, a concentração, a persistência e a disciplina, a música entra como uma prática que só acontece coletivamente", explica o analista de educação do Sesi-RS, Iltomar Siviero. "Preparamos eles para viver socialmente e para que busquem ser pessoas qualificadas, melhores e persistentes. Vejo isso como um ganho fundamental para a vida profissional deles", reforça.
A aluna Ana Clara Vicienzo, 14 anos, aproveitou a oportunidade de entrar na orquestra por gostar de música. Lá, ela venceu a timidez para poder se apresentar em público com o grupo. "Eu me sinto muito feliz aqui. Perdi um pouco da minha vergonha, porque se apresentar num palco exige isso da gente. Eu sinto como se a música me deixasse mais leve e confortável", revela. "Aprendemos que todo mundo é diferente, principalmente os níveis de aprendizado. Isso ajuda muito a gente como pessoa", cita Ana Clara, ressaltando a importância da empatia que os participantes desenvolvem durante sua passagem pelo programa.
"É uma alegria imensa, quase indescritível, participar disso. Aqui é como se fôssemos uma grande família e cada um tem o seu próprio papel nela. Separados, o resultado é bonito, mas juntos nos tornamos uma bela canção", conta Dyom Éder da Rosa, 18 anos, aluno e integrante da orquestra.
Inscrições e informações sobre o projeto podem ser obtidas pelo telefone (54) 3371-1800 ou pelo WhatsApp (54) 99264-3490.