O presidente dos Correios, Emmanoel Rondon, afirmou nesta segunda-feira (29), durante coletiva de imprensa em Brasília, que a empresa ainda precisará captar cerca de R$ 8 bilhões até 2027 para viabilizar seu plano de recuperação financeira. A necessidade permanece mesmo após a contratação de um financiamento de R$ 12 bilhões junto a cinco bancos, com garantia da União.
Segundo Rondon, o plano prevê um aporte total de até R$ 20 bilhões para restabelecer a sustentabilidade econômica da estatal. A forma de obtenção dos recursos adicionais ainda não está definida e pode envolver aporte direto da União ou novas operações de crédito a partir de 2026.
Paralelamente à captação de recursos, o plano inclui um programa de redução de custos, com impacto estimado de R$ 7,4 bilhões nas contas da empresa. Atualmente, as despesas com pessoal representam cerca de 62% dos gastos totais dos Correios, o que, segundo a direção, limita a flexibilidade orçamentária.
Estão previstos dois Programas de Demissão Voluntária (PDVs), programados para 2026 e 2027. A meta é reduzir o quadro em até 15 mil funcionários ao longo de dois anos, o equivalente a aproximadamente 18% da folha de pagamento.
Com as medidas, a empresa projeta uma economia anual de R$ 2,1 bilhões em despesas com pessoal, com impacto pleno a partir de 2028. O plano inclui ainda a revisão de cargos de média e alta remuneração, além de mudanças nos planos de saúde e previdência, considerados financeiramente inviáveis no formato atual.
O plano de reestruturação prevê o fechamento de cerca de mil agências próprias, o que representa entre 16% e 20% da rede atual, formada por aproximadamente 6 mil unidades. A direção afirma que o processo levará em conta tanto o desempenho financeiro das agências quanto a manutenção da obrigação legal de universalização do serviço postal.
A estimativa é de uma economia anual de R$ 2,1 bilhões com o encerramento de unidades deficitárias e a reconfiguração da malha logística. Além das agências próprias, os Correios operam cerca de 10 mil pontos de atendimento por meio de parcerias em todo o país.
O plano também prevê a venda de imóveis considerados não estratégicos, com expectativa de gerar até R$ 1,5 bilhão por ano. Estão previstas ainda novas parcerias com o setor privado, com projeção de R$ 1,7 bilhão anuais em receitas adicionais, principalmente nas áreas de logística e diversificação de serviços.
Os Correios acumulam 12 trimestres consecutivos de prejuízo e registram um déficit estrutural superior a R$ 4 bilhões por ano. Para 2025, a estimativa é de um resultado negativo próximo de R$ 9 bilhões, com possibilidade de agravamento em 2026. A empresa projeta retorno ao lucro apenas a partir de 2027, após a implementação integral das medidas.
O financiamento de R$ 12 bilhões foi contratado junto ao Bradesco, Itaú, Santander, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil. Do total, R$ 10 bilhões devem ser liberados ainda em 2025 e R$ 2 bilhões em 2026. Os recursos serão destinados à recomposição de liquidez, pagamento de salários, precatórios e dívidas em atraso.
A partir de 2027, a empresa também estuda alterações em seu modelo societário, incluindo a possibilidade de abertura de capital e transformação em empresa de economia mista.
De acordo com a direção dos Correios, a crise financeira está relacionada à redução do envio de correspondências, em decorrência da digitalização das comunicações, e ao aumento da concorrência no setor de comércio eletrônico. A empresa cita experiências internacionais, como a do serviço postal dos Estados Unidos, que também enfrenta prejuízos recorrentes, como indicativo de que o cenário afeta o setor postal em nível global.
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil
