Principal 26/11/2025

Diagnóstico tardio faz mortes por câncer de próstata crescerem 56% na região de Passo Fundo

Em Marau, os registros também revelam um padrão de diagnóstico tardio


Mesmo reconhecida como um dos principais polos de saúde do Estado, a região de Passo Fundo enfrenta um crescimento preocupante na mortalidade por câncer de próstata. Dados do Painel Oncologia Brasil (Datasus) mostram que os óbitos pela doença aumentaram 56% entre 2021 e 2024 nos municípios da 6ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS). Somente em Passo Fundo/RS, o número de mortes subiu de 14 para 25 casos no período — uma alta de 78%, praticamente dobrando o número de vítimas em três anos. Os números ganham ainda mais relevância nesta semana, quando o país marca o Dia Nacional de Combate ao Câncer, celebrado em 27 de novembro — uma data que reforça o quanto o diagnóstico precoce aumenta as chances de controle da doença.

Segundo o levantamento do Datasus, um em cada três homens da região recebe o diagnóstico quando o câncer já se espalhou para outros órgãos. Em Marau, os registros também revelam um padrão de diagnóstico tardio: nos últimos seis anos, não houve nenhum caso classificado como estádio 1 ou 2 no sistema público, e 100% dos diagnósticos do período ocorreram em estágios 3 e 4, sendo um terço em fase metastática. Assim como em outros municípios da região, os casos se concentram entre 60 e 79 anos, faixa que reúne a maior parte dos diagnósticos. A ausência de casos precoces reforça que o paciente costuma procurar atendimento apenas quando surgem sintomas.

Por trás dos números está uma realidade que os médicos da região veem todos os dias nos consultórios: o diagnóstico tardio. O oncologista clínico do Centro de Tratamento do Câncer (CTCAN), Dr. Alvaro Machado, explica: "Quando um tumor é descoberto cedo, tem mais de 90% de chance de cura. Mas, na região, 36% dos diagnósticos já aparecem em estádio metastático. Outros 37% chegam ao sistema sem estadiamento definido, ou seja, não se sabe em qual fase da doença o paciente foi diagnosticado e essa falta de informação atrapalha o planejamento público e dificulta entender onde estão os maiores atrasos no diagnóstico".

Durante o Congresso Brasileiro de Oncologia Clínica 2025, no Rio de Janeiro, o oncologista Dr. Alvaro acompanhou a apresentação de novos dados da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) sobre o câncer de próstata avançado e trouxe o alerta para a região. O estudo LACOG 1808 mostrou que os pacientes brasileiros acompanhados na saúde suplementar têm sobrevida mediana de 65,7 meses, enquanto no SUS esse número reduz para 44,8 meses — uma diferença de quase dois anos de vida.  "Os dados reforçam o que vemos na prática: quando o acesso é limitado, o paciente perde tempo precioso de tratamento", alerta.

"O câncer de próstata é traiçoeiro. A maioria dos homens não sente absolutamente nada no início. Quando aparecem sintomas, o tumor geralmente já está avançado. Já no estádio avançado, essa chance se reduz drasticamente", explica o oncologista do CTCAN.

A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) reforça o alerta: "O câncer de próstata costuma evoluir de forma silenciosa, e a ausência de sintomas não significa ausência de risco", afirma a entidade em campanha de orientação sobre o Novembro Azul.

Fila e obstáculos no SUS atrasam diagnóstico

A demora em procurar o médico é apontada como uma das causas centrais desse cenário. No Rio Grande do Sul, onde só um em cada quatro habitantes tem plano de saúde, o diagnóstico de doenças como o câncer de próstata chega, para a maioria dos homens, pela rede pública. Essa dependência faz com que qualquer atraso — desde a primeira consulta até exames como ressonância magnética ou biópsia — tenha impacto direto sobre a chance de detecção precoce.

O oncologista Dr. Alex Seidel, do CTCAN, resume o cenário: "O atraso é duplo: cultural e estrutural. O homem resiste ao exame e, quando decide procurar ajuda, o acesso já está sobrecarregado".

Enquanto isso, a medicina avança

Apesar dos desafios no acesso, a medicina vive um momento de mudanças importantes no diagnóstico e tratamento da doença. Nos últimos anos, técnicas como a biópsia dirigida por fusão, que combina o ultrassom com a ressonância magnética, elevaram a precisão do procedimento e reduziram a necessidade de repetir procedimentos. "Essa tecnologia permite localizar áreas suspeitas com muito mais detalhe e diminui o número de falsos negativos", explica o radiologista intervencionista Dr. Fábio Schaker, da Clínica Kozma, também de Passo Fundo.

O PET-PSMA, hoje referência mundial para localizar metástases, também mudou a forma como o câncer de próstata é estadiado. "Ele funciona como um GPS da doença. Mostra onde está cada foco tumoral, mesmo quando é muito pequeno", afirma o médico nuclear Dr. Stephan Pinheiro Macedo de Souza. Mesmo assim, o exame ainda não está amplamente disponível, ampliando as desigualdades entre diagnóstico público e privado.

O oncologista Dr. Alvaro Machado reforça que essa nova geração de exames soma a outra revolução: a chegada da era molecular, aproximando diagnósticos e tratamentos mais personalizados. "A oncologia entrou na era das mutações. Hoje tratamos o tumor pela sua assinatura genética. A biópsia líquida é um dos caminhos que tem ganhado espaço", destaca.

Atenção aos sintomas

Na fase inicial, o câncer de próstata geralmente não apresenta sintomas — justamente quando as chances de cura podem ultrapassar 90%. Já em estádios mais avançados podem surgir sinais como:

- Presença de sangue na urina ou no sêmen;

- Aumento da frequência urinária;

- Fluxo urinário fraco ou interrupções ao urinar;

- Disfunção erétil;

- Dores nos ossos.

Autor: Departamento de Jornalismo/Vang FM

Link da notícia: https://www.vangfm.com.br/noticia/diagnostico-tardio-faz-mortes-por-cancer-de-prostata-crescerem-56--na-regiao-de-passo-fundo/44128
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